12 de jan. de 2012

A Canção do Sannyasin

(sannyasin significa "aquele que deixa o mundano", "renunciante")


Que desperte o Som! A nota que nasceu
Ao longe, onde o toque mundano não pode alcançar,
Em montanhas e lagos da floresta profunda,
Cujo silêncio desejo algum de riqueza ou fama
Poderá jamais romper–de lá vem a água pura
Da sabedoria, da verdade e da graça que as acompanha.
Cante esta nota em teu coração, bravo sannyasin! Diga,
“Om Tat Sat, Om!”


Rompe teus grilhões! Correntes que te prendem,
Sejam de ouro ou de metal escuro e vil:
Apego, ódio; bom, ruim; e opostos a perder de vista.
Escuta: escravo é escravo sob afago ou chicote
Pois algemas de ouro e brilhantes também encarceram.
Abandone teus grilhões, sannyasin bravo! Diga,
“Om Tat Sat, Om!”


Largue da escuridão, do vagalume de luz fraca
Que piscando empilha tristeza em mais tristeza.
Deixe do apego à vida; ele arrasta tua alma
De nascer a morrer e de morrer a de novo nascer.
Conquistará tudo aquele que conquistar a si.
Saiba disto e nunca falte, bravo sannyasin! Diga,
“Om Tat Sat, Om!”


“Quem semeia colhe”, é dito, e à causa
Segue o efeito: ninguém escapa desta Lei.
É correto–Mas além de nomes e formas
Está o poder do Eu Interior, liberto e puro.
Lembra que é Ele que és, bravo sannyasin! Diga,
“Om Tat Sat, Om!”


Esquece a Verdade quem sonha vagos sonhos
De pai, mãe, filho; amigo, dono e esposo.
Quem o Eu chama de pai? Quem será seu irmão?
Qual o amigo, qual o inimigo do Único?
O Ser está em tudo, nada mais existe;
E eis O que és, bravo sannyasin! Diga,
“Om Tat Sat, Om!”


Só Ele é; o Liberto, o Imóvel
Sem nome nem forma nem mancha.
Nele há maya, sonhando um lento sonho.
Ele é o Observador, a Essência, o Âmago–
Seja Aquilo que és, bravo sannyasin! Diga,
“Om Tat Sat, Om!”


Que buscas, amigo? Liberdade, nem aqui
Nem n’outro mundo encontrarás. Em templos e livros
Tua busca é vã. Só tua é a mão agarrada à corda
Que de vida em vida te arrasta. Abandona teu lamentar.
Largue do que seguras, bravo sannyasin! Diga,
“Om Tat Sat, Om!”


Diga– “Paz a todos. Não farei mal algum
A nada que existe. Os que no alto voam,
Os que baixo rastejam–sou o Ser em todos.
À vida de outros seres e à minha renuncio;
Aos céus e infernos, às terras, aspirações e medos.”
Assim corte teus laços, bravo sannyasin! Diga,
“Om Tat Sat, Om!”


Que não tenhas morada. Em que casa caberias?
O céu é teu teto, a grama teu leito; e comida
A que o destino traz: não julgue amargor ou doçura.
Não há no trajeto nada que desonre o nobre Ser
Que conhece a Si mesmo. Como o rio corrente
Siga ao rumo sem volta, bravo sannyasin! Diga,
“Om Tat Sat, Om!”


A verdade a poucos toca. Os outros terão risos
E rancor a te ofertar, ó peregrino; não os ouça.
Vá, ó liberto ser, de pouso em pouso
E ilumine-os em seu abismo de ilusão.
Sem temer a dor, sem buscar deleite,
Siga além de opostos, bravo sannyasin. Diga,
“Om Tat Sat, Om!”


Dia após dia se passa, até que o karma se finde,
A alma seja liberta e cessem nascer e morte.
Então não há eu, nem tu, nem Deus–nem homem.
O Eu tudo se tornou, tudo é teu Eu e sua paz:
Saiba Quem és, bravo sannyasin! Diga,
“Om Tat Sat, Om.”


Swami Vivekananda, 1885

  

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