30 de nov. de 2012

Vida de Jesus


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17 - Disse Jesus: dar-vos-ei o que os olhos jamais viram e os ouvidos jamais ouviram e as mãos jamais tocaram, e o que nunca brotou do coração do homem.

Olhos, ouvidos, mãos, coração – são coisas do ego humano. Mas o que o novo Eu divino nos dá é algo além de tudo isto.

Todo homem-ego é louco por novidades; corre sem cessar através de coisas novas – e é por causa disto que ele envelhece rapidamente. Quanto mais freneticamente o homem corre atrás de novidades tanto mais rapidamente perde a sua verdadeira vitalidade espiritual. Por que? Porque não há nada de novo debaixo do sol, como já dizia, há milhares de anos, o sábio rei Salomão. E como todas as supostas novidades são rotina velhas em roupagem nova, o caçador dessas velharias envelhece com elas.


Por outro lado, o que nem os olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem mãos tangeram, nem mente alguma pensou, isto é sempre novo e inédito, por ser eterno; isto renova o homem, e não o deixa envelhecer.


Quem é dominado por tempo e espaço, não pode ficar jovem, porque tempo e espaço são sucessividades que nos fazem envelhecer. Mas quem vive na simultaneidade do Eterno, além de tempo e espaço, no Eterno presente, esse não envelhece, vive na indefectível juventude do aqui e agora.

"Perca as esperanças e descomprometa-se com a mentira. É legítimo não estar comprometido com o que não existe. Loucura é ter compromisso com o temporário, com o que não tem permanência. Observe como é fácil equacionar isso. Não existe nada errado em desrespeitar o irreal e buscar a realidade com coerência e respeito total.

O que é a realidade? O que está no fundo de todas as coisas? O que anima tudo? Os seus pensamentos, emoções, a comida que você come? Não. O que corresponde totalmente às suas expectativas? O que está sempre presente e nunca te abandona? Quem é você por trás de todas as camadas?

Acabe com a complexidade e fique com o simples. A simplicidade anterior à decisão de você ser isso ou aquilo. Assista a este espetáculo. Vejamos aquilo que está antes de qualquer definição. "

Satyapren

 

27 de nov. de 2012

Paz


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16 - Disse Jesus: os homens possivelmente pensam que vim para derramar a paz sobre o mundo, e o que eles não sabem é que vim para derramar a discórdia na terra, fogo, espada, guerra. Haverá pois cinco em uma casa: três estarão contra dois e dois estarão contra três, o pai contra o filho e o filho contra o pai, e eles serão solitários.

 Palavras análogas aparecem em diversos Evangelhos.

Quando desperta no homem o Cristo interno, logo o ego humano se revolta contra o Eu divino, tentando impedir uma “subversão”; porquanto, como diz a Bhagavad Gita, o ego é o pior inimigo do Eu, embora o Eu seja o melhor amigo do ego. Sendo que o ego anti-crístico é “o dominador deste mundo, o poder das trevas”, sendo que o ego “tem poder sobre vós” – é inevitável que o homem profano não tolere ser deposto do seu governo pelo homem sagrado, mobilizando contra o homem crístico todas as hostes anticrísticas.

Nenhum ego mental tolera a transmentalização, a soberania do Eu espiritual; toda a estratégia do Anti-cristo é uma guerra contra o Cristo em todas as frentes. O Cristo é considerado como um invasor ilegal nos domínios do Anticristo.

E, não raro, essa guerra do ego contra o Eu se projeta também para o plano externo e social, dentro da mesma família, quando em alguns dos seus membros o Eu crístico já despertou, e em outros continua a dormir. Neste sentido afirma Jesus: “Os inimigos do homem são os seus companheiros de casa”.

Inúmeras experiências na vida de cada homem comprovam essa discórdia entre pessoas da mesma família. O ego só conhece parentesco carnal, nada sabe de afinidade espiritual. Ou, no dizer de Paulo, “carne e sangue não podem herdar o Reino de Deus”.

E então os homens cristificados se sentem como solitários no meio de um mundo anticrístico. Mas, a sua solidão é uma solidão profundamente feliz.

 

25 de nov. de 2012

Filiação


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15 - Jesus disse: quando virdes aquele que não nasceu de mulher, prosternai-vos de face no chão e adorai-o: ele é vosso pai.

Em face dos relatos de Mateus e Lucas, negando a paternidade de José relativamente a Jesus, deveríamos antes esperar que Jesus fosse chamado filho de mulher. Estranhamente, porém, ele insiste dezenas de vezes no seu título predileto “Filho de Homem”. Para compreender este mistério, temos de remontar milhares de anos. Os dois citados evangelistas traçam a genealogia de Jesus através dos ascendentes de José – e depois negam a paternidade física dele. Mas essas duas genealogias – uma desde Abraão, outra desde Adão – têm a finalidade de mostrar através de que canais fluiu o elemento vital que cooperou para a formação do corpo de Jesus. Esse elemento é real, embora não material, uma vez que segundo os Evangelhos, José não teve contato físico com Maria.

Já no Gênesis estava prevista uma geração hominal em vez de animal. Os primeiros seres humanos tinham ordem dos Elohim (potências divinas) de “evolver e multiplicar-se”; mas eles se multiplicaram animalescamente, em vez de primeiro evolverem hominalmente, e por isto veio sobre eles a maldição dos Elohim, que perdura até o presente.


Também João, no seu Evangelho, fala de homens que “não nasceram da fusão de sangues nem do desejo do varão nem do desejo da carne, mas de Deus”.


No caso de José e Maria – e, possivelmente, de alguns grandes avatares – se atualizou a potencialidade da procriação hominal prevista no Gênesis. Por isto Jesus se intitula constantemente “Filho do Homem”, hominalmente gerado, e não animalmente, como outros homens, que, segundo ele, são filhos de mulher”.
No caso da misteriosa entidade de Melquisedec, não houve sequer procreação hominal, tanto assim que os livros sacros afirmam que ele não tinha “geração humana”.


A procriação genuinamente hominal parece efetuar-se, não através do corpo material, como no animal e no homem de hoje, mas através do corpo astral, ou bioplásmico, como no caso de Jesus, onde esse fator vital é chamado “sopro sagrado” e “potência suprema”.


A doutrina teológica de que Maria tenha sido fecundada pelo “Espírito Santo” é mitologia; em caso algum pode uma mulher humana ser fecundada por uma entidade puramente espiritual. O pneuma hágion, de Lucas, é o elemento vital de José, que, através das genealogias milenares referidas por Mateus e Lucas, se refinou e atuou sobre Maria no momento em que “o Verbo se fez carne”. O “esposo divino” (gabri-el) de José, realizou a fecundação, razão porque Jesus se chama “Filho do Homem”, produto de uma geração 100% hominal, que, por isto é antes uma creação do que procreação. A humanidade atual só se transanimalizou do pescoço para cima, despertando a inteligência; mas da cabeça para baixo continua animal. O “Filho do Homem”, porém, é a antecipação de uma nova humanidade; e por isto devemos prostrar-nos diante dele como diante de um homem plenamente realizado.



 

  

23 de nov. de 2012

Vigiai



14 - Jesus lhes disse: se jejuardes, pecareis contra vós próprios, se orardes, sereis condenados e se derdes esmolas, levareis malefícios a vosso espírito. E quando fordes a quaisquer terras, e, ao vaguear pelas redondezas, vos receberem, comei o que puserem à vossa frente, curai os que estiverem doentes em meio deles, pois o que entrar pela vossa boca não vos corromperá, mas o que sair de vossa boca, eis o que vos corromperá.

As primeiras palavras parecem diametralmente opostas aos ensinamentos de Jesus referidos pelos outros evangelistas. Mas, convém não esquecer que Tomé é intransigente defensor da pura interioridade, que condena frontalmente todo e qualquer ato oriundo do ego humano. De fato, jejuar, orar, dar esmola, pode ser pecado, quando esses atos são praticados meramente pelo ego externo, como Jesus faz ver repetidas vezes. A Filosofia Budista chega ao ponto de ver uma profunda e permanente tragicidade em toda e qualquer atividade humana, porque o nosso agir é, quase sempre, um ego-agir, um agir em nome e por amor ao nosso ego ilusório. Parece que nunca nenhum pensador ocidental desceu a esse último nadir de profundidade, de ver tragicidade e pecaminosidade em toda e qualquer atividade humana. Entretanto o budismo tem razão, porque todo o agir do homem profano é um falso-agir, um agir, não somente através do ego, mas também em nome e por amor a esse ego, uma permanente egolatria, ou idolatria, que onera o homem de sempre novos débitos ou karmas.

Em face dessa tragicidade do agir, que gera débito, muitos orientais preferem o não-agir ao agir. Somente os grandes Mestres da espiritualidade descobriram uma terceira atitude, equidistante do agir e do não-agir, que é o reto-agir, isto é, agir em nome e por amor ao nosso Eu divino, ao nosso Cristo interno.

As palavras de Jesus acima referidas condenam jejuar, orar, dar esmola, como falso-agir, agir em nome e por amor ao ego; mas não condenam o reto-agir, agir por amor do Eu divino, da auto-realização.
 
Mas, para que o homem possa reto-agir, agir por amor ao seu Eu divino, embora através do seu ego humano, deve ele conhecer esse seu Eu divino. De maneira que, reto-agir supõe como premissa auto-conhecimento.

Na segunda parte da sentença acima, volta o Mestre a demolir um dos mais queridos ídolos de muitas das nossas sociedades espiritualistas, interessadas em fazer depender a evolução espiritual do conteúdo do estômago. Alguns vegetarianos consideram a comida como fator decisivo de espiritualidade, quando Jesus nunca deu preceitos sobre isto. Para ele, o alimento mental e emocional é muito mais importante para a espiritualidade do que qualquer alimento material. A saúde espiritual depende mais do que nasce e sai do coração e da mente do que daquilo que entra pela boca e vai para o estômago. Todo o homem sinceramente espiritual sabe instintivamente o que lhe convém comer ou não comer; o seu cardápio não lhe é ditado por nenhum livro, preto sobre branco, mas pela intuição da sua alma.

21 de nov. de 2012

Conceitos (2)

13- (A) Então levou Jesus Tomé à parte e afastou-se com ele; e falou com ele três palavras.
E, quando Tomé voltou a ter com seus companheiros, estes lhe perguntaram: Que foi que Jesus te disse? Tomé lhes respondeu: Se eu vos dissesse uma só das palavras que ele me disse, vós havíeis de apedrejar-me – e das pedras romperia fogo para vos incendiar.


Quais seriam essas três palavras que Jesus disse a Tomé? Palavras tão inauditas e tão revoltantes que levariam os outros discípulos a apedrejar o companheiro como culpado de blasfêmia? Pensam alguns intérpretes que teriam sido as palavras “Eu sou tu”, ou “Tu és eu”. Em sânscrito, os iniciados, quando remontam à mais alta sapiência e vislumbram a essencial identidade entre Atman e Brahman, dizem “Tat twam asi” (Isto és tu). Será que Tomé, depois de beber do cálice da sapiência crística, ouviu do Mestre esta sabedoria suprema? Ele diz que das próprias pedras que seus companheiros lhe atirariam sairia fogo para os incendiar. Deviam, pois, ser palavras de fogo aquilo que o Mestre lhe disse e que ele não pôde dizer a seus companheiros. E como, pouco antes, Tomé havia citado as palavras do Cristo que ele lançara à terra, é possível que esse fogo crístico tenha a tal ponto deflagrado em Tomé que ele se tornasse um verdadeiro Cristóforo ou porta-Cristo. Mas os outros não compreendiam essa identidade do Cristo no homem e do Cristo em Jesus.

Tudo isto deve ter ocorrido entre a ressurreição e a ascensão nos quarenta dias que o ressuscitado dava instruções a seus discípulos. Parece que, depois do Pentecostes, Tomé, que fora sempre meio separatista, se separou definitivamente dos colegas palestinenses e se dirigiu ao Egito, onde foram, em 1945, encontrados os preciosos fragmentos que reproduzem parte do seu Evangelho. Nos primeiros séculos do cristianismo, nos desertos áridos da Tebaida, no Egito, viviam centenas de eremitas, solitários yoguis cristãos, em perpétua meditação. Possivelmente, Tomé, após a grande revelação das três palavras indizíveis sobre o Cristo, se isolou nessa inóspita solidão. Se ele não podia revelar a Pedro e Mateus as três palavras inefáveis, como as poderia revelar a outros homens mais profanos do que eles? E cada um de nós tem de descobrir dentro de si mesmo esse sacro trigrama.

20 de nov. de 2012

Conceitos


13 - Disse Jesus aos seus discípulos: fazei uma comparação e dizei-me com quem me pareço. Simão Pedro respondeu-lhe: és como um anjo justo. Mateus lhe disse: és como um sábio. Disse-lhe Tomé: Mestre, meus lábios são totalmente incapazes de dizer-te com quem te pareces. Jesus disse: não sou teu Mestre porque bebeste e te tornastes ébrio com a fonte borbulhante que te desvelei. 

 Pedro e Mateus falam da personalidade humana de Jesus de Nazaré, que um compara com um anjo justo, o outro com um homem sábio. Estes dois apóstolos vêem em Jesus um homem altamente evolvido, muito mais avançado do que outro ser humano aqui na terra; mas nenhum deles visualizou a entidade cósmica dentro da personalidade humana, exatamente como numerosos espiritualistas de nossos dias. Mas, segundo o Evangelho e segundo as próprias palavras de Jesus, o Cristo não é uma personalidade humana, e sim a primeira e mais alta emanação individual da Divindade Universal.

No texto acima citado, Tomé não ousa responder à pergunta de Jesus; prefere calar-se a falar, porque qualquer comparação que ele fizesse seria absurda; pois seria sempre uma comparação entre uma creatura humana e outra creatura humana. Mas, já nesse tempo Tomé vislumbrava algo para além da personalidade de Jesus de Nazaré; adivinhava o Cristo divino invisível para além do invólucro humano visível. E por isto se calou. E Jesus lhe fez ver que ele, o Jesus humano, não era Mestre de Tomé, desde que Tomé havia bebido e se inebriado da borbulhante Fonte da revelação que o Cristo lhe havia oferecido. Quem vislumbra a Realidade espiritual não pode falar, porque entrou na zona dos “ditos indizíveis”.


A ciência analítica, a erudição humana, fala – mas a sapiência intuitiva, a visão espiritual, se cala, porque sabe...


Um dia, como referem os Evangelhos, Tomé quis “ver para crer”; mais tarde, porém, como prova o texto acima, ele preferiu “crer para ver” – ou melhor: ter fé, fidelização, sintonia, para ver o Cristo divino no Jesus humano. E quem vê sabe, e quem sabe não fala – cala-se, porque vê e sabe. Os outros falam porque não sabem nem veem; Tomé prefere calar-se porque bebeu da taça da suprema sabedoria.


 

18 de nov. de 2012

Justiça e Livre Arbítrio


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12 – Os discípulos disseram a Jesus: sabemos que te apartarás de nós. Quem será aquele que nos vai chefiar? Jesus disse-lhes: No presente estágio, dirigi-vos a Tiago, o Justo para que os assuntos do céu e da terra incorporem-se no ser.

O apóstolo Tiago (em hebraico Jacob) é, no Evangelho, cognominado o Justo; foi, depois da ascensão do Mestre, chefe espiritual da cristandade de Jerusalém, onde morreu mártir.

A este discípulo recomenda Jesus os outros discípulos, após a sua partida, porque “ele está ao par das coisas do céu e da terra”, isto é, das coisas necessárias ao homem nesta vida terrestre. À primeira vista causa estranheza que o Mestre não tenha mandado seus discípulos ter com Tomé, que, logo no próximo capítulo 13, aparece como mais esotérico-místico de todos os discípulos. Nem Pedro, nem João, o “discípulo amado” são mencionados por Jesus, porque, nesta ocasião, necessitavam eles mais de alguém que os guiasse nas coisas da vida presente, como indicam as palavras “no ponto onde estais”.

Aliás, todo o Evangelho copta, encontrado no Egito, se move numa dimensão transcendental, diferente dos quatro Evangelhos chamados “canônicos”; nem mesmo Pedro goza da primazia de que os outros evangelhos o revestem. O Evangelho de Tomé reveste um caráter totalmente espiritual, extra-terreno. Sendo que Tomé, segundo a tradição, demandou a longínqua Índia, depois da ascensão de Jesus, não foi o seu evangelho atingido pelo espírito dos outros, discutidos, mais tarde, pelas autoridades hierárquicas. O Evangelho de Tomé revela um caráter anterior à teologização dos outros Evangelhos, conservando um espírito puramente místico, que lembra os três primeiros séculos do cristianismo.

 

15 de nov. de 2012

Mundo Espiritual



11 - Jesus disse: o céu passará e também passará aquele que estiver acima dele, e os mortos não estão vivos e os vivos não morrerão. Nos tempos que comíeis o que era morto, vós os tornáveis vivos; quando vierdes à luz, que havereis de fazer? No dia em que éreis um, vós vos tornastes dois. Mas, quando vos tornastes dois, que fizestes?

 Estas palavras do Evangelho de Tomé são de imensa profundidade, e dificilmente encontrarão paralelo em outros livros sacros.

O céu físico passará, e mesmo os outros céus – astral, etéreo, mental, ou que outro nome tenham – são estágios evolutivos não definitivos.


Todos os seres que não integrarem a sua individualidade viva na Vida Universal são mortos, porque mortais, embora se considerem fisicamente vivos. O que não é metafisicamente vivo não é realmente vivo. Somente o vivo que se integra na Vida é que é real e definitivamente vivo. Os vivos não integrados na Vida são mortos, pseudo-vivos, mas realmente mortos. Imortal é somente a Vida, a Divindade, o Infinito, o Eterno, o Absoluto; todas as creaturas são mortais, ou então imortalizáveis; nenhuma creatura é realmente imortal; imortal é somente o Creador.


A Sagrada Escritura chama “morto” o homem que vive na ego-consciência, porque não integrou o seu ego, pseudo-vivo, na Vida; o homem da ego-consciência não é realmente vivo. Realmente vivo é somente o homem da cosmo-consciência, que integrou o seu vivo individual na Vida Universal.


Os verdadeiramente vivos não podem morrer jamais, porque integraram o seu indivíduo potencialmente imortal na Realidade atualmente mortal.


O homem ainda não realmente imortal come coisas mortas, como são todos os alimentos assimiláveis, mesmo os que a ciência chama vivos, como vegetais crus. O homem definitivamente imortalizado não se nutre de nada que seja morto ou mortal.


Quem digere e assimila o morto ou mortal torna-o imortal. Assimilar quer dizer tornar o assimilado semelhante ao assimilador. A Filosofia Oriental manda “comer o mundo”. O profano, porém, é comido pelo mundo, e por isto é mundanizado ou profanizado. O místico isolacionista recusa comer o mundo e se isola longe do mundo; não é mundano nem mundanizado. Somente o homem cósmico, o místico dinâmico, não é comido pelo mundo, nem recusa comer o mundo, mas come o mundo e o digere devidamente; e, neste caso, o mundo, devidamente digerido e assimilado, ajuda o homem a crescer e realizar-se cada vez mais. O homem cósmico é o homem realmente vivo e imortalizado.


Só o homem, quando definitiva e realmente vivo, não necessita de comer, a não ser luz, que é a última fronteira do mundo material; a luz cósmica é energia descondensada, a substância mais sutil que existe no mundo creado.


O homem, lucigênito e lucificado, é também lucífago.


No princípio, todo o Verso era Uno. O Uno creador manifestou-se no Verso creado, em infinitos graus de diversidade e diversificação. Agora o Universo existe como Realidade Uno e Facticidades Verso. Quando o Verso morre, volta ao Uno, o Vivo se dilui na Vida; ou então, como no homem, o Verso do Vivo se integra no Uno da Vida. As creaturas infra-humanas se diluem no Creador e deixam de existir como creaturas distintas. Somente o homem, em vez de se diluir, pode integrar-se na Vida do Creador.


 

14 de nov. de 2012

Amor Universal


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Jesus disse: vim para atear fogo ao mundo e, vede, eis que estarei vigiando até que ele arda.

O texto dos outros evangelistas difere ligeiramente, mas o sentido é o mesmo.

Em todo ser humano existe esse fogo divino; existe em estado latente, dormente, potencial, em forma de brasa, por assim dizer. Depende do livre arbítrio de cada um transformar em viva chama a brasa dormente e não permitir que ele continue apenas como brasa, ou até se apague totalmente. O flamejar do fogo potencial em fogo atual, como aconteceu no primeiro Pentecostes, depende de cada homem. 


As circunstâncias externas podem, certamente, dificultar ou facilitar esse rompimento do fogo; mas nenhuma circunstância pode impedir a atuação da substância interna.

O Uno do Universo, o Creador, creou imensa variedade no mundo do Verso, ou das creaturas. Além de creaturas apenas creadas, há algumas creaturas creativas, como o homem aqui na terra. Estas creaturas creativas podem e devem tornar-se melhores do que o Creador as fez, como ilustra maravilhosamente a parábola dos talentos. O homem não deve devolver ao Creador apenas o que dele recebeu, mas deve duplicar com a sua creatividade o talento que recebeu, deve transformar em atualidade a potencialidade recebida; se assim fizer, será “servo bom e fiel”; se não o fizer, será “servo mau e preguiçoso”, e perderá até a potencialidade creativa que recebera, perdendo a sua natureza humana; a brasa, em vez de flamejar, se extinguirá.


As leis cósmicas não permitem estagnação, que, cedo ou tarde, acabará em involução; as leis cósmicas exigem imperiosamente evolução, exigem que a brasa da creatividade potencial deflagre em chama viva de creatividade atual.


Diz o texto do Evangelho de Tomé que o fogo potencial no homem é “vigiado” pelo Cristo até que deflagre em viva chama. É este o Cristo interno presente em cada homem, que deve manifestar-se, como aconteceu em Jesus de Nazaré.


Obs: A substituição da tradicional palavra latina crear pelo neologismo moderno criar é aceitável em nível de cultura primária, porque favorece a alfabetização e dispensa esforço mental – mas não é aceitável em nível de cultura superior, porque deturpa o pensamento.
Crear é a manifestação da Essência em forma de existência – criar é a transição de uma existência para outra existência.
O Poder Infinito é o creador do Universo – um fazendeiro é criador de gado. Há entre os homens gênios creadores, embora não sejam talvez criadores.
A conhecida lei de Lavoisier diz que “na natureza nada se crea e nada se aniquila, tudo se transforma”, se grafarmos “nada se crea”, esta lei está certa mas se escrevermos “nada se cria”, ela resulta totalmente falsa.
Por isto, preferimos a verdade e clareza do pensamento a quaisquer convenções acadêmicas.

 

13 de nov. de 2012

Campo para Semeadura


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9 – Jesus disse: Vede, o semeador saiu, encheu suas mãos e semeou. Algumas sementes caíram no caminho; os pássaros vieram e as recolheram. Outras caíram na pedra e não puderam enraizar-se na terra, e não germinaram. E outras caíram em solo fértil; e germinaram e deram bons frutos; nasceram na proporção de 60 por unidade e 120 por unidade.

Esta parábola do semeador é quase igual à dos evangelistas Mateus, Marcos e Lucas, à exceção de divergências insignificantes.

O que é notável em todos os textos é o fato de ter o semeador – que é o Filho do Homem – lançado a semente da palavra de Deus indistintamente em terrenos bons e maus. Segundo a nossa agronomia, não devia ter semeado no caminho, no rochedo e nos espinhos, mas exclusivamente em terra boa. Mas, como o principal da parábola não é o símbolo material, e sim o simbolizado espiritual, o procedimento do semeador é correto; não concorda com a agronomia material, mas condiz com a agronomia espiritual, onde o campo é a alma humana dotada de livre arbítrio. O solo físico não pode modificar a sua receptividade; mas o solo metafísico, humano, é responsável por sua receptividade, maior ou menor. Sendo a semente a própria palavra de Deus, sempre ótima, a sua diferença de produção não corre por conta da semente, mas por conta do terreno em que é semeada, isto é, a alma humana.

A parábola visa, portanto, a advertir os homens da sua responsabilidade em face da semeadura espiritual; os terrenos improdutivos da humanidade são culpados por sua improdutividade. O livre arbítrio humano é responsável pelo fato de produzir nada, pouco ou muito.

Aqui está mais uma apoteose do livre arbítrio do homem, sempre de novo negado por certos cientistas incompetentes. O livre arbítrio existe potencialmente em todo ser humano normal; mas a sua atualização depende do desenvolvimento da consciência de cada um. As leis cósmicas produzem não somente creaturas creadas, mas também creaturas creativas. Estas últimas podem crear-se melhores ou piores do que Deus as creou. A semente da palavra de Deus é ótima, mas o terreno humano é variável: mau, bom, ótimo.


12 de nov. de 2012

Alimentação espiritual


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8 – Ele disse: O homem se parece com um pescador ajuizado, que lançou sua rede ao mar. Puxou para fora a rede cheia de peixes pequenos. Mas entre os pequenos o pescador sensato encontrou um peixe bom e grande. Sem hesitação, escolheu o peixe grande e devolveu ao mar todos os pequenos. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!

 Nestas palavras aparece o homem de consciência cósmica, que saberá lidar com todas as coisas pequenas do mundo material, mental, e social, que entram na rede da sua vida diária; mas terá o dom do discernimento espiritual, em virtude do qual distingue de relance o que é importante e duradouro para sua verdadeira evolução; dá a Deus o que é de Deus e dá a César o que é de César: escolhe a “única coisa necessária” de Maria, e deixa as coisas facultativas para Marta. Fica com o peixe grande e liberta-se dos pequenos.

Esta pequena parábola faz lembrar as duas parábolas do “tesouro no campo” e da “pérola preciosa”, em que o feliz descobridor se desfaz de todas as outras coisas e adquire o tesouro e a pérola.

O homem-Eu possui uma espécie de faro cósmico, ou intuição, em virtude da qual ele discerne o que é qualidade duradoura, e o que é apenas quantidade efêmera; enxerga as coisas sub specie aeternitatis, como dizem as biografias dos santos.

O homem profano só se interessa pelas coisas quantitativas, e não percebe a coisa qualitativa.

O homem místico do misticismo unilateral apanha na sua rede somente o peixe grande da espiritualidade isolada.

O homem de consciência cósmica, ou da mística onilateral, apanha na rede da sua vida coisas de toda a espécie, mas devolve ao mundo as coisas sem valor e se apodera da única coisa valiosa. “Examinai todas as coisas – disse Paulo  – e ficai com aquilo que é bom”.

 

11 de nov. de 2012

Poder


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7 – Bendito o leão comido pelo homem, porque o leão se torna homem! Maldito o homem comido pelo leão, porque esse homem se torna leão!

O leão simboliza o ego humano, que o apóstolo Pedro, na sua primeira epístola, identifica com o diabo.

Segundo as palavras de Jesus, satanás ou diabo é o ego mental do homem, quando se opõe ao Eu.

Bendito o Eu espiritual quando devora e assimila o ego mental.

Maldito o Eu divino (Self) se se deixa matar e devorar pelo ego humano.

De acordo com todos os livros sacros, sobretudo do Evangelho do Cristo, o homem-Eu não deve mandar embora o homem-ego, mas sim colocá-lo na retaguarda da sua vida (vade retro). O homem espiritual deve servir-se do homem físico-mental-emocional para espiritualizar-se cada vez mais; deve integrar o ego no Eu, o humano no divino, o seu Jesus no seu Cristo.

A Filosofia Oriental diz que o homem deve “comer o mundo”, isto é, aproveitar-se do mundo assimilando-o para sua evolução espiritual; mas ai do homem que se deixa comer pelo mundo.

Para que o homem não seja devorado pelo leão, mas possa devorá-lo, deve ele torna-se tão forte que nenhum leão o possa derrotar.

O homem que vive permanentemente nas profanidades da sociedade não possui força suficiente para triunfar sobre os leões do mundo. Para ser amigo e benfeitor da sociedade, deve o homem isolar-se frequentemente na solidão do seu interior – e terá forças para integrar em si o leão, em vez de ser desintegrado por ele.

Joel Goldsmith, no seu livro “A Arte de Curar pelo Espírito”, diz que, em sua cidade natal, Honolulu, é considerado como homem anti-social, porque não frequenta reuniões sociais, não lê jornal, não tem rádio nem televisão, nem recebe visitas inúteis. E ele responde: “Sou um homem anti-social por amor à sociedade, porque, para poder ajudar a sociedade, devo isolar-me em Deus”. Quem nunca foi solitário em Deus não pode ser solidário com os homens sem perigo de se perder. Só pode viver no mundo de Deus quem aprendeu a viver no Deus do mundo.

10 de nov. de 2012

Atos


 
6 – Perguntaram os discípulos a Jesus: Queres que jejuemos? Como devemos orar? Como dar esmola? E quais os alimentos que devemos tomar?

Respondeu Jesus: Não mintais a vós mesmos, e não façais o que é odioso! Porquanto todas estas coisas são manifestas diante do céu. Não há nada oculto que não seja manifestado, e não há nada velado que, por fim, não seja revelado.

Atos e fatos externos não têm valor em si mesmos. O que vale é unicamente a atitude interna. Praticar atos e realizar fatos objetos que não nasceram de uma boa atitude subjetiva, é mentir e fingir amar o que realmente se odeia. O agir deve ser o efluxo do ser. A vivência ética deve ser o fruto espontâneo da consciência mística.

Que devemos comer?

Há pessoas que dão grande importância à qualidade dos alimentos, ao conteúdo do estômago, como se a qualidade espiritual dependesse da qualidade material dos manjares. No Evangelho de Jesus não se encontra uma única prescrição nem proscrição de alimentos, porque, segundo as suas palavras, “o que de fora entra no homem não o torna impuro, mas sim o que de dentro sai do homem”.

Da mesma forma, Jesus não prescreveu nenhuma fórmula de oração ritual; o chamado “Pai Nosso” não é uma reza ou recitação verbal; é um roteiro espiritual que indica a direção a quem abre a alma rumo ao Infinito. Jesus orava espontaneamente em qualquer lugar: nos montes e desertos, no templo e na sinagoga, entre as dores do Getsêmane e do Gólgota, bem como nas glórias do Tabor. A oração deve ser tão espontânea e natural como a respiração, que acontece ao homem sadio inconscientemente.

Nesta palavra do Evangelho de Tomé, volta o Mestre a frisar que o mundo espiritual é uma Realidade Universal, supra-consciente, e não uma espécie de ocultismo, infra-consciente. As coisas do ego consciente, ou do id sub-consciente, atraem os profanos, mas a Realidade do Eu cosmo-consciente encanta o iniciado, porque é manifesta como a luz solar. A magia mental e o ocultismo infra-mental são como uma noite fria de luar, ao passo que a mística espiritual é semelhante a um dia cálido repleto de luz solar.

9 de nov. de 2012

Visão Espiritual


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5 – Disse Jesus: Conhece o que está ante os teus olhos – e o que te é oculto te será revelado; porque nada é oculto que não seja manifestado.

Aqui se trata de um paralelo entre dois modos de ver: o homem profano vê o que está diante dele, mas não o conhece – ao passo que o iniciado conhece o que não está diante dele. A Realidade não é visível, como as facticidades. A visão puramente empírico-analítica dos sentidos e do intelecto não é conhecimento verdadeiro. O verdadeiro conhecimento é uma intuição, ou intro-visão, uma visão de dentro da Realidade, e não uma visão externa, uma extra-visão ou pseudo-visão de facticidades ilusórias. Quando a ex-tuição do profano é substituída pela in-tuição do iniciado, então o homem sabe e saboreia a alma do Universo, que é a Realidade, e a alma do seu próprio ser.

Quem nunca passou da extra-visão ilusória para a intro-visão verdadeira, nada sabe da verdade; e quem não está na verdade não está liberto da ilusão.
Verdade, liberdade, felicidade – estas três são uma só.

 

8 de nov. de 2012

Nascimento


 
 4 – Jesus disse: O homem idoso perguntará, nos seus dias, a uma criança de sete dias pelo lugar da vida – e ele viverá. Porque muitos primeiros serão últimos, e serão unificados.

Uma criança saiu da Vida Universal e entrou no vivo Individual. Um ancião está prestes a sair do vivo e voltar à Vida. A vivência dos vivos aqui na terra é como que um parêntesis no texto da Vida Universal; na criança, o vivo individual está no princípio, no ancião o vivo individual está no fim; a criança abriu o parêntesis, o ancião está para fechá-lo. Mas a Vida é Una, Eterna, sem princípio nem fim; a criança abriu o parênteses, o ancião está para fechá-lo. Mas a Vida é Una, Eterna, sem princípio nem fim. Não importa o tempo em que alguém entra ou sai da vivência do vivo temporário; o importante é que o homem integre a sua vivência temporária na Vida eterna, onde não há criança nem ancião. A vivência é do ego, a vida é do Eu.

A criança pode dizer ao ancião: “Eu vim da Vida, e tu voltas para a Vida”.

Esta integração do vivo na Vida não é presente de berço, nem dádiva de esquife – é uma conquista da consciência. E onde impera o livre arbítrio da conquista não há primeiro nem último; essa conquista não depende da idade do corpo, mas da idoneidade do espírito.

O invólucro ego nos foi dado para que através dele o Eu se realize plenamente (Dharma, Verdadeira Vontade, etc...).  É necessário que a alma encontre resistência no corpo, porque sem resistência não há evolução. O envolvimento da alma espiritual pelo corpo material não tem caráter punitivo, e sim evolutivo. A alma é uma emanação individual da Divindade Universal; mas essa individualidade espiritual é apenas uma potencialidade, que deve transforma-se em atualidade. A alma realizável deve realizar-se plenamente através do corpo; e essa realização se processa através da passagem pelo corpo, que, por enquanto, é grosseiramente material. A realização da alma começa no corpo material e continuará através de outros corpos não materiais, até chegar ao corpo mais sutil, que talvez é o corpo-luz. Quanto mais a alma intensificar a consciência da sua essencial identidade com o espírito divino, tanto mais se aperfeiçoa também o seu invólucro corpóreo.

7 de nov. de 2012

Reino do Céu


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3 - Jesus disse: Se aqueles que vos guiam vos disserem: vê, o Reino está no céu, então os pássaros vos precederão. Se vos disserem: ele está no mar, então os peixes vos precederão. Mas o reino está dentro de vós e está fora de vós. Se vos reconhecerdes, então sereis reconhecidos e sabereis que sois filhos do Pai Vivo. Mas se vos não reconhecerdes, então estareis na pobreza, sereis a pobreza.

Se o Reino é algo no mundo das quantidades, então o homem tem de alcançar esse Reino no tempo e no espaço das quantidades. Mas, se o Reino é qualidade, então o homem deve despertar em si esse Reino, que é como uma luz sob o velador, como um tesouro oculto, como uma pérola no fundo do mar. O advento do Reino é o despertamento da Realidade do Eu divino dentro de todas as facticidades humanas. E, se esse Reino, que é a luz do mundo, despertar no homem, iluminará todos os setores da vida humana, porque será como uma luz no alto do candelabro, beneficiando todos os que estão na casa.

A mística divina atuará em forma de ética humana; o despertamento da consciência divina transbordará como vivência humana. O Reino de dentro será necessariamente o Reino de fora.


Auto-conhecimento é a raiz de toda a auto-realização. Onde falta a raiz vertical não podem expandir-se os ramos horizontais.


O agir ético é uma consequência inevitável do ser místico.



 

6 de nov. de 2012

Reforma Íntima


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2 - Quem procura, não cesse de procurar até achar; e, quando achar, será estupefato; e, quando estupefato, ficará maravilhado – e então terá domínio sobre o Universo.

Repetidas vezes, nos quatro Evangelhos, Jesus insiste: “Procurai, e achareis...”. Também em outros documentos encontramos a insistência no procurar: “Quem procura não desista até que ache, e, depois de achar ficará estupefato, e, maravilhado, achará o Reino, e, depois de achá-lo, terá domínio sobre o Universo”.

A vida do ego humano é como a periferia de uma roda girante: quanto mais no exterior, tanto maior é o movimento e menor a força; mas, quando o homem entra no eixo da roda, cessa o movimento, porque no centro há força sem movimento, energia tranquila. Na periferia há quantidade no tempo e no espaço; no centro há qualidade no Eterno e no Infinito. Vida empírico-analítica lá fora – vida intuitiva cá dentro.

Procurar rumo à periferia acaba em morte. Procurar rumo ao centro leva à vida. E esse procurar se torna tanto mais intenso quanto mais o homem se aproxima do centro. Ele sofre e goza a sua procura. Tanto mais procura quanto mais acha. Só quando possui totalmente, deixa de sofrer. Mas, enquanto não atingir o centro de si mesmo, o eixo central do seu Ser, admira-se de que procurar a verdade seja um misto de gozo e sofrimento. Entretanto, esse homem prefere gozar sofrendo a gozar gozando, porque sente que este é o caminho certo.

Se o homem não fosse potencialmente Deus, não poderia atualmente encontrar Deus. O Homem só pode procurar explicitamente o que ele é implicitamente. “Se o olho não fosse solar, jamais poderia ver o sol”. (Goethe).

São Jerônimo cita uma palavra de Jesus, talvez tirada do Evangelho de Tomé: “Há uma estupefação que leva à morte – e há uma estupefação que leva à vida”.

O homem sempre satisfeito consigo, ou ainda não soletrou o abc do seu ego, ou já ultrapassou esse ego e repousa no Eu. A transição do ego para o Eu é envolta em estupefação e admiração, porque vai em demanda de um novo mundo desconhecido. Mas, uma vez que o homem entrou nesse mundo desconhecido de Deus, terá domínio sobre o Universo.

5 de nov. de 2012

Vida e Morte

 
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A recente descoberta do Evangelho de Tomé, precisamente em nosso tempo, foi um acontecimento singularmente providencial e sumamente oportuno.

Nunca esteve a humanidade ocidental tão ansiosa de auto-redenção como em nossos dias – e este Evangelho proclama a imperiosa necessidade de auto-conhecimento, que é o fundamento da auto-realização ou auto-redenção.

Os teólogos antigos falam em salvação, no sentido de uma alo-redenção, de uma salvação de fora do homem –  mas essas teologias estão em declínio, ao passo que a auto-redenção do Evangelho está numa gloriosa ascensão. Também os quatro Evangelhos segundo, Mateus, Marcos, Lucas e João, proclamam a verdade central da auto-redenção pela consciência e pela vivência do Cristo interno, a redenção pela mística e pela ética. Mas, em face do estado primitivo da humanidade, as teologias deram excessiva importância a diversos tipos de alo-redenção: 1) redenção por meio de objetos e fórmulas sacras, 2) redenção pelo sangue de um homem inocente.  Essa ideologia pagã-judaica de alo-redenção por fatores alheios e externos está sendo superada. Na alvorada do terceiro milênio, a elite espiritual da cristandade está despertando para a verdade central da mensagem do Cristo: a redenção do homem pelo Deus imanente, pelo Cristo interno, pelo divino autós da sua alma divina. No Evangelho do Cristo só consta a redenção ou realização do homem pela mística do primeiro e maior de todos os mandamentos, revelada pela ética do segundo mandamento; e nestes dois mandamentos se baseiam toda a lei e os profetas, a quintessência do Cristianismo. 

A redenção, segundo o Evangelho, está na consciência da paternidade única de Deus manifestada na vivência da fraternidade universal dos homens. A elite espiritual da cristandade do nosso tempo está redescobrindo esse tesouro oculto da mensagem do Cristo. O Cristianismo está proclamando a sua autonomia crística sobre a heteronomia de contágios alheios, que retardaram a sua evolução bi-milenar. Didymos Thomas não se cansa de frisar essa auto-redenção do homem pelo despertamento do Deus imanente. As crenças teológicas dos homens estão cedendo lugar à experiência crística de Deus.

Tomé, outrora o descrente no meio de crentes, revela-se hoje o pioneiro dos experientes para os inexperientes desejosos de experiência própria sobre o mistério de Deus no homem. No Evangelho de Tomé não aparece o menor indício de uma hierarquia eclesiástica nem hegemonia clerical. O Cristianismo primevo era uma fraternidade espiritual, uma espécie de democracia crística, e não uma monocracia hierárquica. Nada consta de uma primazia de Pedro; pelo contrário, Simão Pedro aparece numa luz assaz desfavorável, sobretudo no último capítulo 114, onde ele revela estranho pensar anti-feminista. No Evangelho de Tomé não há referência à transubstanciação nem ao poder de perdoar pecados conferido por Jesus aos seus discípulos. Tudo visa unicamente o despertamento do poder espiritual no homem.

 Os comentários aos 114 textos são exclusivamente nossos, que, em face do caráter misterioso do texto, comportam explicações várias, consoante a intuição espiritual dos leitores.

1 –  Quem descobrir o sentido destas palavras, não provará a morte.

Esta primeira palavra de Jesus referida por Tomé, logo revela o caráter místico do seu Evangelho. Os livros sacros usam a palavra “morte” tanto em sentido físico como metafísico; e aqui “morte” quer dizer a permanência no plano do ego humano, ignorando o Eu divino do homem; porquanto nenhum homem se imortaliza pela mentalização do seu ego, mas tão-somente pela transmentalização rumo a seu Eu, ao seu Atman, à sua Alma, que é o espírito de Deus em forma individual.

Já no livro do Gênesis, a palavra “morte” é usada em sentido metafísico, quando os Elohim, as potências divinas, dizem a Adão: “Se comeres do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal (do ego), logo morrerás”. Adão comeu desse fruto e viveu ainda diversos séculos. O texto não se refere à morte do corpo físico, mas sim à morte pelo ego mental: O homem, pelo despertamento da ego-consciência,  permanece no plano da mortalidade.

Somente subindo ao plano superior da “árvore da vida” é que ele entrará na  imortalidade. O homem pode mortalizar-se, e pode também imortalizar-se. A serpente do Gênesis simboliza o ego mortal, o poder que esmagará a cabeçada serpente representa o Eu imortal. Esse processo evolutivo do ego-mortal para o Eu-imortal, vai através de todos os livros sacros. O próprio Cristo se identifica com o Eu-imortal quando se compara à “serpente erguida às alturas”,  que preserva da morte os que haviam sido mordidos pelas serpentes rastejantes do ego humano. Na Filosofia Oriental, aparece a palavra kundalini , cujo radical kundala, significa serpente, símbolo da energia cósmica. A kundalini  dormente no chackra inferior da coluna vertebral representa o subconsciente do homem primitivo; quando ela desperta e rasteja horizontalmente, entra o homem na zona do ego-consciente; e, quando kundalini se verticaliza e atinge as alturas, então entra o homem no mundo do cosmo-consciente, onde ele se imortaliza. O homem é potencialmente imortal, ou imortalizável, mas não é atualmente imortal; se assim fosse, não poderia sucumbir à morte metafísica. 

A imortalização, ou imortalidade atual, é a conquista suprema da consciênciacosmo- crística do homem. Nesse sentido afirma o Evangelho: “A tal ponto amou Deus o mundo que lhe enviou seu filho unigênito, para que todos aqueles que com ele tenham fidelidade não pereçam, mas tenham a vida eterna”.

Também a história do filho pródigo usa a palavra “morto” em sentido  metafísico: O pai daquele jovem diz que seu filho estava morto e reviveu, estava no ego e passou para o Eu. E toda a subsequente alegria e solenidade só se compreende quando se sabe que simboliza a apoteose de um ser humano que se auto-realizou, passando da ego-consciência mortal para a Eu-consciência imortal. Também no caso do discípulo que queria sepultar seu pai antes de atender ao convite de Jesus, o Mestre usa a palavra “morte” em dois sentidos, físico e metafísico: “Deixa os (espiritualmente) mortos sepultar os seus (fisicamente) mortos”.

O Credo Apostólico afirma que o Cristo julgará os vivos e os mortos, isto é, os que vivem na cosmo-consciência e os que ainda rastejam na ego-consciência. Tomé refere as palavras do Cristo divino proferidas através do veículo da  personalidade humana de Jesus: “Quem descobrir o sentido destas palavras não provará a morte”, quem compreender pela intuição o sentido profundo das palavras deste Evangelho, esse não ficará no plano do ego humano, mas se imortalizará pela consciência do Eu divino. Compreender não é inteligir, entender, mas é saber ou saborear com todas as potências do espírito. Essa sapiência, ou saboreamento espiritual, só acontece ao homem quando ele se abre rumo ao Infinito em cosmo-meditação, em Cristo-conscientização. A verdadeira meditação é uma invasão Cristo-cósmica na alma do homem. Enquanto o homem é ego-pensante, nada de grande lhe acontece; mas, quando ele se torna cosmo-pensado, cosmo-agido, cosmo-vivido, então lhe acontece a invasão cósmica do espírito de Deus, que resolve todos os problemas da vida terrestre e introduz o homem na vida verdadeira. Nesta primeira palavra do seu Evangelho, Tomé já antecipa uma verdadeira síntese de todas as verdades seguintes. E, à luz dessa intuição mística, indigitou ele o caráter fundamental da sua mensagem. A tal ponto Tomé descreu no princípio que, por fim, ultrapassou todo o descrer e também todo o crer e atingiu as culminâncias de um saber e saborear crístico.

 

3 de nov. de 2012

O Quinto Evangelho (Introdução)

Por Huberto Rohden


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“Se não lhe vir nas mãos à marca dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos, e não lhe introduzir a mão no lado, não acreditarei absolutamente.” Esta dúvida assinala a fugaz passagem do apóstolo Tomé pelos evangelhos. Exigiu prova empírico-analítica: meter o dedo no lugar transpassado pelos cravos e enfiar toda a mão no lugar por onde a lança entrou. Quer fazer como o cego que, às vezes, é menos enganado que os que enxergam."

A exigência de Tomé transformou-o num dos homens mais famosos de todos os tempos.

Quando Jesus voltou ao Cenáculo, procurou Tomé com o olhar. Viera por causa dele, por causa dele somente, porque lhe dedicava um amor maior que todas as negações. Chama-o pelo nome e aproximando-se dele, diz:

- “Chega aqui teu dedo e vê minhas mãos; vem com tua mão e mete-a em meu lado; e não sejas incrédulo, mas tem fé”.
Tomé não obedece. Não ousa tocar com o dedo a chaga e, com a mão, a ferida. Estupefato, prostra-se aos pés de Jesus e brada:
- “Meu Senhor e meu Deus”.

Por estas palavras, semelhantes a uma simples saudação, confessa Tomé a sua derrota. Derrota essa mais bela que qualquer vitória.

Quase dois milênios se passaram desde essa cena. Agora, em plena era atômica e cosmonáutica, no início da era de aquário, surge Tomé como um fogo a iluminar a treva de nosso coração e a demolir a montanha de nossa incredulidade.

Em 1945, num antigo cemitério de Nag Hammadi, no alto Egito, potes de barro, contendo doze manuscritos em caracteres coptas, colocaram novamente Tomé no centro do cenário do cristianismo.

Agora, está sendo anunciado ao mundo perplexo, que o texto copta seria, na realidade, o QUINTO EVANGELHO, tão insistentemente referido pela tradição oral do cristianismo.

Este evangelho segundo Tomé não trata da vida histórica de Jesus.

São 114 sentenças profundamente metafísicas. Tomé abre seu evangelho com a afirmação: “Estas são as palavras secretas de Jesus, o Vivo, que foram escritas por Didymos Thomas”. (A palavra aramáica “Thomas” quer dizer “gêmeo”,  em grego “Didy mos”).

As “palavras secretas são ensinamentos esotéricos de Jesus, proferidas, não para as massas populares, mas para um seleto grupo de discípulos escolhida do divino Mestre, capazes de compreender o sentido místico de certas verdades profundas”.

Também pelos outros Evangelhos consta que Jesus disse a seus discípulos: “A vós é dado compreender os mistérios do Reino de Deus, enquanto ao povo só lhe falo em parábolas”.

 
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