4 de fev. de 2013

Doação da Razão (2)


Cronos


60 - Ao entrarem na Judéia, eles viram um samaritano que carregava uma ovelha. Jesus disse a seus discípulos: Por que a carrega? Responderam eles: para matá-la e comê-la.
Disse-lhes Jesus: Enquanto a ovelha está viva, ele não a poderá comer; só depois de morta e cadáver.
Replicaram eles: De outro modo não a pode comer.
Respondeu-lhes Jesus: Procurai para vós um lugar de repouso, para que não vos torneis cadáveres e sejais devorados.

Para compreender devidamente essas palavras, convém voltar a uma das sentenças anteriores, onde Jesus compara o mundo material-mental com um cadáver, e o mundo espiritual com um ser vivo. Aliás, através de toda a sagrada escritura, tanto do antigo como do novo testamento, como já vimos, o homem ego é chamado “morto”. Esse homem é como um cadáver e pode ser devorado pelo mundo. Mas, quando o homem entra na cosmo-consciência, ele nasce e é vivo, e não pode ser comido pelo mundo.

A profunda sabedoria da filosofia oriental desenvolve este conceito e diz que o homem deve “comer o mundo”. Quem ingere e digere um alimento, vitaliza este alimento e o integra na substância do seu próprio ser. Quem assimila é mais forte do que aquilo que é assimilado. O homem profano é assimilado pelo mundo, porque é mais fraco que este. O homem místico, do misticismo isolacionista, não assimila o mundo nem é assimilado pelo mundo, porque se separou dele. O homem cósmico, porém, que pratica mística dinâmica, integra o mundo em si, transformando-o pelo poder do seu espírito. Isto é “comer o mundo”, em vez de “ser comido pelo mundo”.

Para que o homem possa deste modo comer e assimilar o mundo pela consciência cósmica, tem de intensificar, em primeiro lugar, a consciência da sua essencial identidade com o espírito divino; se não conseguir essa suprema conscientização “Eu e o Pai somos um”, está sempre em perigo de ser comido pelo mundo, em vez de comer o mundo.

As palavras de Jesus, no Evangelho de Tomé, dizem misteriosamente: “Procurai um lugar de repouso, para que não vos torneis cadáveres e sejais devorados”. Quem não busca regularmente esse “lugar de repouso”, na cosmo-meditação diária, está sempre em vésperas de ser devorado pelo mundo – se é que ainda não foi devorado como carniça espiritualmente morta.

 

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